Derrota para o Japão vale mais do que goleada sobre a Coreia para a Seleção
Virada sofrida em Tóquio expõe fragilidades, mas não deve ser motivo para terra arrasada. Ancelotti vem fazendo o certo
O relógio tiquetaqueia alto. A derrota por 3 a 2 para o Japão, nesta terça-feira, em Tóquio, encerrou mais uma etapa na preparação do Brasil para a Copa do Mundo. Restam apenas duas convocações, em novembro e março, até Carlo Ancelotti definir a lista para o Mundial. São tempos de urgência, em que é preciso aproveitar acertos e identificar erros. Nesse sentido, a virada sofrida em Tóquio valeu mais do que a goleada de 5 a 0 sobre a Coreia do Sul na partida anterior.
Foi uma derrota dura, que expôs as fragilidades que a Seleção ainda tem – herança de um ciclo tumultuado. Mas ela não deve ser motivo para terra arrasada, da mesma forma que a vitória sobre a Coreia não justificava empolgação.
Ancelotti vem fazendo o certo, e isso independe dos resultados. Ele tem acertado na fixação de uma base sobre a qual testa nomes para posições carentes, na aposta em esquemas diferentes, na tentativa de encontrar um time sem centroavante, na observação de Vini Jr centralizado.
Também acerta, em conjunto com a CBF, na escolha por amistosos contra escolas diferentes. Agora foi a vez da Ásia, mês que vem serão os africanos (Senegal e Tunísia), em março serão os europeus (possivelmente França e Holanda), em uma escala crescente de dificuldade. É uma estratégia que ajudará a situar a Seleção na hierarquia mundial.
Contra o Japão, Ancelotti fez uma série de mudanças na comparação com a goleada de 5 a 0 sobre a Coreia do Sul. Manteve como titulares apenas Casemiro, Bruno Guimarães e Vini Jr – em uma sinalização de que a estrutura de jogo da Seleção tem esses jogadores como pilares iniciais.
O maior impacto foi a presença de Lucas Paquetá. Ele muda o desenho da equipe. Por mais que esteja liberado para acompanhar os atacantes (e o faça em vários momentos), é um jogador que busca mais a bola, flutua mais entre as linhas. É possível que sua presença no time ou no banco marque a variação entre esquemas.
O Japão impôs muito mais dificuldades ao Brasil do que a Coreia do Sul. Também armou uma linha de cinco defensores, mas com um time mais compacto e atento na marcação. Mesmo assim, a Seleção chegou aos gols ainda no primeiro tempo, em jogadas de clarividência de dois meias: primeiro com Bruno Guimarães encontrando Paulo Henrique às costas da zaga, depois com Lucas Paquetá acionando Gabriel Martinelli.
Veio o segundo tempo, e a atuação brasileira despencou. Fabrício Bruno cometeu erro grosseiro ao entregar a bola no primeiro gol do Japão, marcado por Minamino aos seis minutos. O lance esquentou a equipe asiática, que passou a acossar o Brasil. Ancelotti mexeu no time, colocou Joelinton, Rodrygo e Matheus Cunha (nos lugares de Bruno Guimarães, Vini e Martinelli), mas não houve efeito. Aos 16, o Japão chegou ao empate, em chute de Nakamura que Fabrício Bruno, ao tentar afastar, mandou para o gol; aos 24, Ueda venceu Beraldo pelo alto e virou a partida.
A Seleção passou alguns minutos desnorteada até se reencontrar. Na reta final da partida, conseguiu pressionar em busca do gol de empate – sem sucesso. Saiu de campo derrotada e exposta.
Ancelotti tem muito a tirar da partida. E precisará meditar sobre algumas questões decisivas. Por que desta vez o ataque foi menos móvel? Por que desta vez a defesa cometeu erros em profusão? Por que o desempenho variou do primeiro para o segundo tempo? Como equacionar agressividade ofensiva e segurança defensiva?
Faltando oito meses para a Copa, com o relógio tiquetaqueando no ouvido, as respostas são necessárias.
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